segunda-feira, maio 15, 2006

AO QUE SABE UM DOMINGO À NOITE?!

Um domingo à noite sabe à saudade da sexta-feira à noite e à nostalgia do sábado à noite. O domingo à noite já cheira ao barulho da porcaria do despertador às sete e meia da manhã de segunda-feira.
O domingo à noite não existe. É o nada, é o vazio.
Antigamente, as pessoas sabiam que o domingo era a não existência, por isso é que lhe espetavam com o Dallas e com o Domingo Desportivo apresentado pelo Ribeiro Cristóvão e com 'análises' e comentários de Rui Tovar e do outro, um tal de Gabriel Alves. Assumia-se o nada e não se tentava mascarar o vazio.
O domingo à noite já não faz parte do Dia do Senhor.
Para piorar o domingo à noite, surge agora a fronha oxigenada de um antigo humorista chamado Herman; surgem também os guinchos e gritos de uma senhora que já ganhou a vida a falar com uma meia e a dizer mal de toda a gente; e surgem os caracolinhos de um homenzinho ridículo, na SIC Notícias, a regorgitar frases feitas e veneno para um lado, enquanto faz vénias e loas para o outro.
O domingo à noite sabe ao que sabe, o que não tem sabor.
O domingo à noite sabe ao que sabe, a última refeição do condenado.

Por Óis buzinam uns doidos de automóvel e motas potentes e gritam outros malucos encharcados de vapores alcoolizados e cheiros de fumos indizíveis.
Já não há memórias dos champarrions no Figueiredo ou na Celeste, de uns tintos com figos no António da Zola, dos sermões da meia dúzia de mais velhos que se sentavam no cruzeiro, em cavaqueira. Já nem há cruzeiro, há um monte de oliveiras onde defectam gatos e cães, sem que ninguém ponha não nestas coisas.
Já nem há memórias de umas relhadas, com que se zuniam e enfiavam alguns malportados em casa. Outros tempos...
Òis da Ribeira, num domingo à noite, tempo que há muito eu já não respirava.

1 comentário:

  1. Magnífico retrato de Óis da Ribeira, nem Luís Neves a fotografar. O blog tem este condão, de nos deliciar com prosa de qualidade, que nos rejuvenesce e falece de saudades. Mas porque não assinam?

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