quarta-feira, fevereiro 01, 2017

O amor e a miúda, o amuo e a chantagem...


O futuro e o amor não acabaram, não são finitos, são esperança. O futuro está aqui, ou ali mesmo, ao virar da esquina, onde todos o quiserem ver e senti-lo, apalpá-lo e adivinhá-lo. Não há lei que o amarre, o esfacele, o mate. O amor aprende-se, entre amuos e paixões, o fascínio e o deslumbramento. 


- É isso o amor, meu amigo? Achas mesmo?
- Digo-to eu e garanto-te que é, eu que já não nasci ontem e que até já vi porcos a andar de bicicleta e peixes a voar... O amor é isso, arde e amua mas não morre, não se vê mas sente-se, abre portas e corações...
- Mas os gajos não disseram que a lei manda fechar o amor? Como é mesmo que o tipo disse? 
- Que o destino é a extinção.
- Pois foi, isso mesmo... e um até afirmou que seria um desgosto enorme vir a ser o coveiro.
- Vê lá tu o que as pessoas dizem para se verem livres de amores com quem já foram tão felizes. Parece que nem dá para acreditar.
- Deixam de ter interesse, esses amores, é o que é...
- Mas ouve lá, qual interesse, qual carapuça? Estes amuos até podem ser temporários, acontecem muitas vezes, são coisas da vida..., os namoros são assim.
- Nãããã..., com aquela veemência toda, não me parece que a coisa seja temporária. Se fosse, não iam assim expor o divórcio tanto em público e prejudicar uma relação de anos. Os tipos estão mesmo determinados a acabar com o namoro...


Amar é ... dar tudo o
temos para dar ao outro,
como a nós mesmos 
e aos nossos...,
mesmo que nos custe, 
mesmo que nos doa a alma e
sofra o sentimento!

- Nada disso, pá... é um amuozito apenas, depressãozita que passa com o tempo. O amor, quando é amor tem muita força...
- Olha que não me parece. Aquilo cheira-me mais a chantagem emocional...
- Chantagem?
- Chantagem, sim, chantagem...
- Ó pá, espera lá... chantagem?
- Isso mesmo, chantagem... É para ver se os pais e a família da miúda se põem mais a jeito.
- Ó pá, deixa-te lá de coisas, que a coisa é séria...
- Claro que é séria, o namoro é sério, só passa por uma  crise passageira, mas vai passar...
- Achas?
- Claro, um destes dias mandam-lhe um sms e a depressão passa num instantinho...
- Mas diz-me lá como é que começou esse namoro?
- Como todos os outros. A miúda é gira, mimosa, com um bom pé de meia e estava p´ra ficar sem namorado. Foi quando entrou este e outros se puseram à mesa, debicando os prazeres do amor por ela, já era uma paixão antiga.
- Ouvi dizer que um, em tempos, até andou a dizer mal dela, que se deveria namorar e casar com outra...
- Pois, tá bem..., mas passou-lhe, na altura da última depressão da miúda. A consciência pesou-lhe e disse-lhe que não a podia deixar abandonada e aproveitou a oportunidade para a enlaçar, a usar, a apreciar, a debutar...
- Lá estás tu com a tua conversa fiada...
- Então não foi assim? A miúda ia ficar livre, estava a entrar em depressão e ele foi generoso com ela, acarinhou-a, embalou-a, festejou-a, apresentou-a aos amigos, adoçou-a e fez dela uma família, juntou-a aos do seu sangue, fê-la dele.
- Tás hoje muito poeta pró meu feitio...

O amor é com´á poesia
por mal rimada que seja,
para alguns dá em azia, 
para outros sabe a cereja...


- Poeta, nada..., qual poeta? A coisa até correu bem ao princípio, com muitas festas e palavras bonitas ao ouvido da miúda. Os senhores e a criadagem cobriam-a de mimos, apaparicavam-a e todos sonharam fazer coisas grandiosas. A paixão tornou-os grandiloquentes e semeou os seus sonhos ao mundo. A felicidade era tamanha da grandeza do mar e do céu de estrelas, era sumptuosa e vibrante, quase etérea...
- Já ouvi essa história em qualquer lado, é paleio barato, de novela mexicana...
- Cala-te lá, a felicidade deslumbra, como sabes..., fascina, faz cego o olhar mais apaixonado, faz doce o coração mais empedernido, e ali havia amor, amor que não se via mas se sentia, que encantava e se multiplicava.
- Com tanto amor, como se explica então este divórcio?
- Não se explica, é o amor, com os seus amuos e depressões, os seus altos e baixos. É o amor...
- Mas assim uma coisa tão brusca, tão letal e extintiva?
- São arrebatamentos do amor, meu caro, do amor que por vezes se disfarça de raivas, se faz surdo às proclamações da paixão, cego ao que quer ver, mudo ao que deseja ouvir.
- Isso já é areia a mais para a minha camioneta, desculpa lá...
- A vida é assim, minha amiga!

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