segunda-feira, novembro 22, 2021

A Avenida do Surpel foi construída há 92 anos !

 

A Rua Nossa Senhora de Fátima, actual. Há 92 anos, foi rasgada e aberta ao trânsito
com o pomposo nome de Avenida do Surpel, ligando Óis da Ribeira a Espinhel

A Ladeira da Escola, para o Bairro Alto, já «pertencia», há 92 anos,
à chamada Avenida do Surpel. Uma modernidade desse tempo! 
                                                                                                                                       A vila de Óis da Ribeira, há 92 anos, em 1929, estava praticamente isolada do mundo, mesmo do mais próximo, o territorialmente fronteiriço - como, aliás,  acontecia deste tempos imemoriais. A norte, pelos campos e rio Águeda, até ao limite com Requeixo; a poente, pela pateira; a nascente, pelo rio Águeda e sem ponte - só inaugurada 23 anos depois. A sul, com um caminho de mato a ligar a Espinhel. Foi quando se alargou esse caminho, que era a única ligação por terra ao mundo exterior. 
Há 92 anos, esse caminho foi alargado e a abertura da nova via aproximou Óis da Ribeira do mundo.
A Junta de Freguesia de Óis da Ribeira era presidida por José Maria Estima (avô de Zeca Estima Reis, o actual presidente da ARCOR), com os vogais Joaquim Maria Viegas (tio de Celestino Viegas, ex-presidente da ARCOR) e José Maria Simões dos Reis (avô paterno de José Melo Ferreira, curiosamente outo ex-presidente da ARCOR).
Foi a então chamada Avenida do Surpel.
A hoje Rua Nossa Senhora de Fátima.
Ajardinado do Surpel nos dias de hoje


Até os médicos já
não iam a Óis !

situação era grave: até os médicos tinham deixado de vir a Óis da Ribeira.
A freguesia, de resto, segundo uma notícia de 12 de Agosto de 1929, do jornal Soberania do Povo, «raras vezes recebia a visita de automóveis, por não ter caminho acessível». O jornal  de Águeda deu destaque ao assunto, que foi recordado pelo site «Luís Neves/Óis da Ribeira» (AQUI), citando o extinto primeiro site da ARCOR (infelizmente «morto» por alguns 
A Avenida do Surpel, corresponderia, mais ou
menos à actual Rua Nossa Senhora de Fátima

ex-dirigentes) e dando conta que os custos de 6 300$00 suportados pela Câmara de Águeda.
O correspondente  do jornal - que, supomos, seria Joaquim Tavares da Silva, dono do Escondidinho, junto à Igreja, agora «Escondinho da Núria», e do Café Império, depois de Fernando Pires (que casou com a neta Isabel) – traçava rasgados elogios à obra, em notícia de 16 de Novembro de 1929, publicada a 22. Escrevia ele que «alargada quasi ao dobro e toda macdamisada, mais pode chamar-se Avenida do Surpel do que a antiga calçada toda cheia de solavancos, donde algumas vezes alguns autos tiveram de ser retirados com o auxílio de bois».
A povoação estava isolada, só viria a ter a ponte em 1952, e o drama punha-se por exemplo no facto de «deixarmos de ter visitas médicas, por não termos um caminho único que desse acesso a esta freguesia da antigas tradições».
O correspondente sublinhava depois que «cabe aqui referir e prestar homenagem ao presidente da Comissão Administrativa da Junta de Freguesia, sr. José Estima, que foi incansável para levar a cabo a construção da estrada, sem o que hoje não estava concluída». 
O site de Luís Neves, sobre Óis da Ribeira
e a Avenida do Surpel -Ver AQUI
                                                                          Câmara de Águeda                          não gostou da notícia !                                                                            A Câmara Municipal de Águeda é que não gostou da crónica do correspondente e, na edição seguinte (26 de Novembro), deu-lhe troco: «(…) como, mal informado, diz que a estrada foi feita pela Junta de Freguesia, com o auxílio da Câmara, esclareça-se que isso é menos exacto, porquanto quem mandou fazer as reparações na desmantelada estrada foi a Câmara, havendo os respectivos serviços sido dirigidos, com uma solicitude e assiduidade merecedoras dos maiores elogios e do maior reconhecimento por parte dos lugares beneficiados, pelo sr. José Estima, digno presidente da Junta de Freguesia de Ois, que de certo acha justas a aclaração e rectificação que resultam destas notas».
As obras, referia ainda a nota camarária, custaram 6 300$00, suportada pelas verbas do serviço braçal (2 030$00), subsídio da Câmara (1 300$00) e do dinheiro das Minas, destinado a Ois da Ribeira e Espinhel, segundo o parecer das respectivas Juntas de Freguesia (2 670$00).
O correspondente retorquiu a 7 de Dezembro, referindo que «não foi com intuito de melindrar a Câmara quando aqui referi os serviços na estrada do Surpel».
«Tinham-me informado que a Câmara subsidiava as obras (…), ninguém me tendo dito que as despesas eram todas pagas por ela (..), Sendo assim, isto é, se a estrada foi feita só com o dinheiro da Câmara e das Minas, é à Câmara e só a ela que temos de louvar e a mais ninguém (…). Estávamos errados quando aqui louvámos o bairrismo desinteressado do amigo José Estima (…), mas o que é certo e mais que certo é que se não estivesse à frente da Junta de Freguesia e dos trabalhos do Surpel o amigo José Estima, e a boa vontade em a Câmara nos ser agradável, a estrada continuaria, através dos séculos. Cheia de solavancos, como até aqui. O mais são tretas», dava conta o correspondente em Ois da Ribeira do jornal Soberania do Povo.
«Fosse a Câmara, muito embora, que despendesse o dinheiro, mas o bairrismo deste povo também deve ser levado em conta», rematava o correspondente.
    









                                        
                                                   



Câmara de Águeda
não gostou da notícia

A Câmara Municipal de Águeda é que não gostou da crónica do correspondente e, na edição seguinte (26 de Novembro), deu-lhe troco: «(…) como, mal informado, diz que a estrada foi feita pela Junta de Freguesia, com o auxílio da Câmara, esclareça-se que isso é menos exacto, porquanto quem mandou fazer as reparações na desmantelada estrada foi a Câmara, havendo os respectivos serviços sido dirigidos, com uma solicitude e assiduidade merecedoras dos maiores elogios e do maior reconhecimento por parte dos lugares beneficiados, pelo sr. José Estima, digno presidente da Junta de Freguesia de Ois, que de certo acha justas a aclaração e rectificação que resultam destas notas».
As obras, referia ainda a nota camarária, custaram 6 300$00, suportada pelas verbas do serviço braçal (2 030$00), subsídio da Câmara (1 300$00) e do dinheiro das Minas, destinado a Ois da Ribeira e Espinhel, segundo o parecer das respectivas Juntas de Freguesia (2 670$00).
O correspondente retorquiu a 7 de Dezembro, referindo que «não foi com intuito de melindrar a Câmara quando aqui referi os serviços na estrada do Surpel».
«Tinham-me informado que a Câmara subsidiava as obras (…), ninguém me tendo dito que as despesas eram todas pagas por ela (..), Sendo assim, isto é, se a estrada foi feita só com o dinheiro da Câmara e das Minas, é à Câmara e só a ela que temos de louvar e a mais ninguém (…). Estávamos errados quando aqui louvámos o bairrismo desinteressado do amigo José Estima (…), mas o que é certo e mais que certo é que se não estivesse à frente da Junta de Freguesia e dos trabalhos do Surpel o amigo José Estima, e a boa vontade em a Câmara nos ser agradável, a estrada continuaria, através dos séculos. Cheia de solavancos, como até aqui. O mais são tretas», dava conta o correspondente em Ois da Ribeira do jornal Soberania do Povo.
«Fosse a Câmara, muito embora, que despendesse o dinheiro, mas o bairrismo deste povo também deve ser levado em conta», rematava o correspondente.


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