sexta-feira, agosto 08, 2014

Uma ponte nova para um qualquer dia...




O vice-presidente da Câmara deu a cara pela paragem das obras da ponte, mas não garantiu data de reinício. “Será o mais depressa possível“, disse Jorge Almeida, na reunião da noite de 30 de Julho. Uma  reunião de vozes exaltadas e exclamações menos ortodoxas, na qual mentiroso foi palavra muito solta.
A história é simples: a Câmara adjudicou a empreitada à empresa Ar--Lindo, de Braga, estava tudo muito certo, foi feito o desaterro, em  Maio, e, de repente, saíram os homens da obra. 
A Câmara Municipal deu por ela e, a 23 de Julho, indagou a empresa sobre a data em que os trabalhos seriam retomados, da entrada na obra dos armadores de ferro e do início da execução da estacaria.
A resposta não podia ser mais explícita: o empreiteiro está em  PER - Plano Especial de Revitalização. Por outras palavras, as que o povo conhece bem e entende: em pré-falência.

Exaltações e protestos

Jorge Almeida, na exaltada reunião de 30 de Julho, deu a cara à centena de pessoas que se juntaram no salão da ARCOR. «Não trago a melhor notícia, mas já a sabem. Nas boas e nas más, cá estou, e esta não é boa». E, tim-tim-por-tim, deu conta dos passos (não andados) que levam a este martírio de, até não se sabe quando, não haver ponte para ninguém.
 Exaltaram-se e protestaram os populares, a várias vozes, debitando culpas ao ”descuido camarário”: o de ”adjudicar a obra a empreiteiro na falência”. Que ”a Câmara cumpriu todos os preceitos legais”, explicou Jorge Almeida. Que «ainda hoje estivemos reunidos com um administrador, que garantiu ter já a percentagem de credores necessária” para a aprovação do PER. Que, se assim acontecer e com ”a  Câmara a seguir todos os caminhos possíveis e legais”, a obra será   retomada. Com este, ou com um sub-empreiteiro.
”Vivo convosco a vossa mágoa e luto para que os prazos sejam os mais curtos possíveis”, proclamou Jorge Almeida.
 
Pedir? Não, exigir!

Pois, sim! Germano Venade, ”a falar em nome de muita gente de Ois”, pediu ”um bocadinho de condições” para o caminho alternativo ao aterro.
 ”Não é pedir, é exigir!!!...”, ouviram-se e repetiram-se vozes no salão, alto e bom som.
Vitória Alves falou no meio da turba, do tubo roto (do saneamento), a ”deitar mau cheiro” e, contra o desaterro e a nova ponte, testemunhou o óbvio: que ”tenho 61 anos e nunca ouvi falar que morresse alguém afogado nas cheias de Águeda”. É que muita gente de Ois acha que a ponte não vai resolver coisa nenhuma das cheias da cidade e ”está é a prejudicar-nos”.
Ernesto Pires, Amílcar Fernando Coelho e outros, altercaram veementemente contra  Jorge Almeida, que se ouviu a lamentar: ”Assim não nos entendemos”. E,  respondendo a uma pergunta, afirmou que ”o PER deu entrada no Tribunal de Braga e vai demorar semanas, o máximo quatro meses”.
”Semanas???? Anos!! Aaaanoooos… Alguns três anos!!!”, ouviram-se vozes, gritos e apupos, enquanto, de saída, Maurício Fernando Anjos indagou se ”ainda aposta nesta firma, mesmo falida?”.
”Não há ninguém que pudesse ter feito isto de outra forma”, respondeu o vice--presidente, precisando que ”a fiscalização camarária actuou e pedimos explicações, recebemos a informação do PER e, sem decisão do tribunal, não podemos fazer nada”.

Mentiras e vozearias

António Cadinha fez-se ouvir, acusador: ”Isso é só falar, falar, falar... e não diz nada. Já aqui esteve da outra vez e prometeu o alcatrão para o caminho e não o pôs”. 
Outras vozes se juntaram, reclamando o alcatrão – que Jorge Almeida disse não ter prometido, até porque, frisou,  ”não o poderíamos pôr, por causa do ambiente”.
”Vamos ser sérios. O senhor disse que punha...”, acusou Sérgio Neves, presidente da Assembleia de Freguesia.
 ”Disse? Não disse!…”, respondeu Jorge Almeida.
”O senhor é mentiroso”, retorquiu Sérgio Neves, sem troco do vice-presidente da Câmara.
A vozearia enlodou qualquer razão que se quisesse ouvir, na turbulenta sessão, que seria de esclarecimento. 
Jorge Almeida: ”Não queriam certamente, que viesse aqui contar uma história diferente da verdade”. E  repetindo-se: ”Foi-me garantido - garantido entre aspas, precisou – que o PER seria aprovado. Isso quer dizer, se acontecer, que o atraso nas obras não será assim tão significativo”.
Pois, sim! Manuel Tavares levantou-se e perguntou se a Câmara ir pedir indemnizações pelos prejuízos - que, entende ele, devem ser também para os utentes. Quais indemnizações? ”É preciso é soluções, para quando vierem as cheias”, disse António Cadinha.
António Manuel Reis puxou ”pelo título muito bonito da Soberania de hoje”. 

E citou-o: «Não há ponte para ninguém”. Acrescentou: ”Sugiro ao jornalista o título da próxima semana: Parabéns Águeda, acabaram as  cheias».
”Não podemos pôr as coisas desta forma», respondeu Jorge Almeida, irritado. ”A ponte há-de ser feita - sublinhou – e, sobre indemnizações, exigiremos as que a lei permitir, mas isso, hoje, não resolve nada”.
 O ambiente estava exaltado e perguntou António M. Reis: ”Então a empresa está insolvente e daqui a quatro meses vai ter condições para fazer a obra?”.
”Gostava que viesse a Ois em dias de cheia”, desafiou Vitória Alves. ”Se a empresa faliu, qual é o plano da Câmara”, indagou João Ferreira.
Jorge Almeida repetiu a sua convicção da não falência da Ar-Lindo e deixou escapar a possibilidade de as obras recomeçarem já na próxima semana, ”se se confirmarem as perspectivas desenhadas em reuniões com um administrador da empresa”.
 ”Se, se, se!!!…”, frisou o vice-presidente da Câmara, ”sem garantia nenhuma que esse trabalho tenha sucesso”.
Veio à baila a probabilidade (não tão remota, assim...) da efectiva insolvência do empreiteiro e da abertura de um novo concurso. Quanto tempo demorará? ”É sempre um meio ano», disse Manuela Pato, directora municipal. Ou seja daqui a 10 meses.
A versão de Jorge Almeida era (é) outra: ”Estamos a tentar, junto da empresa, que o mais rapidamente possível reinicie as obras. Atenção, se, se e se!!!…”.
”Isto está encangado”, disse Germano Venade, que citou o pó e a lama do caminho e voltou à tecla do alcatrão prometido para o caminho.
”Não somos nós que temos a canga” defendeu-se Jorge Almeida, frisando que ”estou aqui muito limpo, fiz tudo por esse caminho, foi precisa muita teimosia da minha parte”.
Sérgio Neves, de novo: “Se o senhor tiver educação para me ouvir, se tiver educação… 
Se tivesse ouvido o povo! Os aquedutos resolviam o problema e com muito menos custos”. 
E Diamantino Correia: ”A Câmara tem consciência dos prejuízos que está a provocar?”.
Ainda se ouviu Manuel Almeida (Capitão?: ”Compromete-se, para quando, dizer quando recomeçam as obras”.
”Quanto antes”, respondeu Jorge Almeida.


Texto e foto DAQUI

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