Era dia de domingo e iam dois homens a caminho de uma terra chamada Ollyices, andadas já umas 30 jardas desde os sítios de Adouros, a conver-
sar sobre o milagre que por lá se murmurava, quando, de um repente, lhe surgiu um homem, nas Pedrinhas da Forca, um simples viandante, um forasteiro, que lhes perguntou ao que por ali iam.
«Ao sinédrio do povo ollycense, cha-
mados pelos doutores da lei, para lhes respondermos pela escritura secreta, a que apusemos o nosso decisivo e in-
fluente chamegão», respondeu um de-
les, qualquer coisa sussurrando, de-
pois, no ouvido do seu companheiro de viagem. Salamurdo!
«Que palavras são essas que trocais entre vós e que me escon-
deis? Blasfemais contra mim?», perguntou o viandante, que vinha, ofegado, quando já os três iam caminhar pela via da Igreja abaixo, em direcção à praça social da localidade - onde estava erguido o palácio da secreta escritura. Assim se supôs.
Os dois homens, surpreendidos pela audaz pergunta, estacaram na frente da padaria e olharam o forasteiro.
«És, por certo, o único cidadão que, em Ollyces, nada sabes sobre o que por aí tanto se murmura...», respondeu um deles, depois esticando o dedo indicador sobre os lábios, indicando silêncio ao companheiro, sem mais palavras, apenas o gesto: «Shiuuuu!...».
Perguntou-lhe o forasteiro, intrigado e desconfiado do gesto:
«Mas o que foi, o que se intriga e murmura?...».
«Não sabes, então?...», perguntou o outro dos dois homens que caminhavam já desde os fertéis campos dos Adouros, chegando ali já mui cansados, desde a Gôcha.
«Pois, o que foi então, dizei-me...», disse o forasteiro.
Os dois homens desencapuzaram-se e olharam, desconfiados, o intrigante forasteiro. «Não sabeis mesmo?».
«Do que falais, afinal?...», reperguntou o forasteiro. «Dizei-me que mistério escondeis e não podereis contar».
Contou, então, um dos dois homens, o guru de entre ambos, dono de sinecuras imensas, actor conhecido de repetidas representa-
ções e hereditário de linhagens de governadoria. Contou que, «para salvar almas e patrimónios desta gente boa desta boa terra» tinham ambos, em segredo, assinado escritura para defenderem, defenderem a nobre terra, da fome devoraz e apetite colonizador de vizinhos ímpios, vizinhos de terras de judiarias vastas.
«Fazei-vos melhor entender...», pediu o forasteiro.
Pois que «com muito sacrifício» tinham os homens e mulheres de Ollyces erguido majestoso palácio público, ao ser-
viço de todos, que a nova governadoria poderia usurpar. Governadoria que 2018 dC iria, por certo, ter maioria de agentes da terra colonialista de judas.
«O que fizemos foi escritura, secreta, que assinámos ambos, ninguém conhece e ninguém sabe, além de nós, para deles nos defendermos», disse o guru, o guru de entre os dois caminhantes, aqui já a passar diante do templo religioso, a ele genuflectindo e se benzendo.
«Uma, então, escritura secreta, dizeis vós?...», perguntou o enigmático forasteiro, compondo a cruz de madeira que se lhe pendurava do pescoço.
«Tão secreta que só tu sabes, apenas agora e além de nós...», disse o guru ao forasteiro, que desapareceu para os lados de Arailes, ja não chegando à praça do palácio.
Continuaram ambos os caminhantes, já a sós e descendo a carreira do templo, sempre desconfiando do estranho forasteiro, que se sumira, quando chegaram perto das ameias do palácio erguido pelo imenso esforço do povo ollycense.
«Será, meu guru, que bem fizemos ao assinar as escrituras sem delas der notícia ao povo?», perguntou um dos caminhantes. O menos dono de toda a verdade e de tudo.
O palácio estava de portas fechadas, mas viram uma outra, ao lado poente e aberta, de onde se avistava luz e de lá ouvindo algum burburinho, o que lhe espevitou a curiosidade e a vontade, sem medos, perturbação ou hesitação. Ali estariam, em conselho, os vários doutores de leis.
«Vamos lá contar o nosso segredo? Sempre vamos?...», perguntou um dos dois caminhantes, ao senhor seu amo e guru, também caminhante.
Que «sim, vamos ver, talvez..., quem sabe...», admitiu o guru, porém ele mesmo indeciso e interrogado do que fizeram.
***
Ao terceiro dia, quiçá arrependidos mas não temerosos, após cumprirem a promessa de anunciação do secreto segredo aos doutores de leis, propagandearam generosa e inexplicável explicação, para a turba que os criticava em tudo o que era canto de Ollyces.
«O que fizemos, feito está, e foi para defender o nosso património, o património da nossa vila, foi por isso que em tal escritura apusemos o nosso chamegão, antes que os da terra de Judas para lá levassem o palácio...», disse o guru, a mão passando pelo queixo.
«Mas fomos só nós dois a decidir! Sem ninguém mais saber... Podíamos tal chamegão apor, assim sem mais nem menos, em tal secreta escritura?», interrogou o assinaturante menor, ainda muito hesitante e temeroso do que diria a plebe popular de tal escriturante acto.
Que sim, pois claro: «Não somos nós, por graça da nossa competência, os todos donos disto tudo?», disse o guru, cofiando a rala barba e o turbante capuz.
«Do que falais, afinal?...», reperguntou o forasteiro. «Dizei-me que mistério escondeis e não podereis contar».
Contou, então, um dos dois homens, o guru de entre ambos, dono de sinecuras imensas, actor conhecido de repetidas representa-
ções e hereditário de linhagens de governadoria. Contou que, «para salvar almas e patrimónios desta gente boa desta boa terra» tinham ambos, em segredo, assinado escritura para defenderem, defenderem a nobre terra, da fome devoraz e apetite colonizador de vizinhos ímpios, vizinhos de terras de judiarias vastas.
«Fazei-vos melhor entender...», pediu o forasteiro.
Pois que «com muito sacrifício» tinham os homens e mulheres de Ollyces erguido majestoso palácio público, ao ser-
viço de todos, que a nova governadoria poderia usurpar. Governadoria que 2018 dC iria, por certo, ter maioria de agentes da terra colonialista de judas.
«O que fizemos foi escritura, secreta, que assinámos ambos, ninguém conhece e ninguém sabe, além de nós, para deles nos defendermos», disse o guru, o guru de entre os dois caminhantes, aqui já a passar diante do templo religioso, a ele genuflectindo e se benzendo.
«Uma, então, escritura secreta, dizeis vós?...», perguntou o enigmático forasteiro, compondo a cruz de madeira que se lhe pendurava do pescoço.
«Tão secreta que só tu sabes, apenas agora e além de nós...», disse o guru ao forasteiro, que desapareceu para os lados de Arailes, ja não chegando à praça do palácio.
Continuaram ambos os caminhantes, já a sós e descendo a carreira do templo, sempre desconfiando do estranho forasteiro, que se sumira, quando chegaram perto das ameias do palácio erguido pelo imenso esforço do povo ollycense.
«Será, meu guru, que bem fizemos ao assinar as escrituras sem delas der notícia ao povo?», perguntou um dos caminhantes. O menos dono de toda a verdade e de tudo.
O palácio estava de portas fechadas, mas viram uma outra, ao lado poente e aberta, de onde se avistava luz e de lá ouvindo algum burburinho, o que lhe espevitou a curiosidade e a vontade, sem medos, perturbação ou hesitação. Ali estariam, em conselho, os vários doutores de leis.
«Vamos lá contar o nosso segredo? Sempre vamos?...», perguntou um dos dois caminhantes, ao senhor seu amo e guru, também caminhante.
Que «sim, vamos ver, talvez..., quem sabe...», admitiu o guru, porém ele mesmo indeciso e interrogado do que fizeram.
***
Ao terceiro dia, quiçá arrependidos mas não temerosos, após cumprirem a promessa de anunciação do secreto segredo aos doutores de leis, propagandearam generosa e inexplicável explicação, para a turba que os criticava em tudo o que era canto de Ollyces.
«Mas fomos só nós dois a decidir! Sem ninguém mais saber... Podíamos tal chamegão apor, assim sem mais nem menos, em tal secreta escritura?», interrogou o assinaturante menor, ainda muito hesitante e temeroso do que diria a plebe popular de tal escriturante acto.
Que sim, pois claro: «Não somos nós, por graça da nossa competência, os todos donos disto tudo?», disse o guru, cofiando a rala barba e o turbante capuz.
1 comentário:
Lindo texto! " sussurrando ao ouvido"... tendo em conta que hoje e dia 1 de Abril!
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