sábado, agosto 31, 2019

Um ano atípico e «saldo-average» de 20 e tal mil dinheiros!...

O mundo sempre a rodar...
... e o dinheiro a faltar!

O Concílio Geral reuniu as Cortes pa-
ra observar o «saldo-avera-
ge» do Reino, ouvindo con-
selheiros e demais pro-
curadores do conhecimento sobre o primeiro sexteto de meses do ano e planear o futuro mais pró-
ximo dos mais jovens.
«Salvé, Senhor.... O que quereis vós, então, dizer sobre a matéria que aqui nos traz, sobre os dinheiros que governam o Reino e alimentam vossos planeados orçamentos? Está aberta a sessão...», procla-
mou o presidente do Concílio Geral, com um ligeiro tossiquilho a embargar-lhe a voz.
Decorreu um breve período, um gélido silêncio, e ajeitando-se o Conselheiro Executivo Maior no trono, cofiou as nobres barbas e foi dizendo, algo seráfico: «O que aqui nos traz, sapientes conselheiros e brilhantes procuradores, é falar-vos das tentações que desbarataram o plano que honradamente aqui expusemos e consabidamente vocências aprovaram para este ano, um ano de novo atípico, em que se fez sol quando devia fazer-se chuva e chuva se fez quando deveria fazer-se sol».
Tossiu mais um pouco, pigarreou, compôs o colarinho e continuou o já muito olhado Conselheiro Executivo Maior: «A carta orçamental, os créditos que projectámos, os planos que fizemos, os bondosos desejos que a anunciámos, os projectos que riscámos e planeámos, sempre e unicamente a pensar no futuro do nosso Concílio associativo, tudo isso foi quase tudo por água abaixo», disse, porventura taciturno e a dobrar e redobrar as folhas A4 que suportavam os apontamentos da sua homilia.
Até, assim parecia, algo nervoso e abaixar-se para cochichar algo com o conselheiro das finanças. E continuou:
«Isto era um plano magnífico, extraordinário e absolutamente realista, pensado e repensado por mim e outros sábios do meu Concílio, aliás, e de resto, superiormente aprovado pelas Cortes que tão brilhantemente vocências integram. Ademais, até vos diria que não fora o ano atíp...»
«Ó homem, deixe-se lá de conversa e diga-nos lá é que contas quer mostrar do semestre; é isso que aqui nos traz...», comentou um dos conselheiros, já pouco paciente e com cara de poucos mas mesmo muito poucos amigos.
«Peço ponderação aos senhores conselheiros», interveio o presidente do Concílio, tamborilando o tampo da caneta na mesa presidencial e apontado para o mariano líder, que apertava o dedo indicador contra a orelha direita.
Ave do euro voa, voa...
«Pois em verdade, verdade vos digo que este ano foi um ano muito atípico, o que foi uma grandíssima e ingrata surpresa para nós. Até tínhamos previsto umas coisas muito bonitas, deveras abrilhantadas, de resto, por gente da maior do Reino Geral e o mês de Janeiro até ia a correr muito bem, com muita gente da grande Corte a participar no banquete do festim e a dizer de nós coisas muito bonitas, assaz jolies e muito, muito  interessantes, tanto que até me emocionei...», ia a dizer o grande líder do Conselho Mariano, interrompido por voz grossa e nervosa, recalcitrante.
«Deixe-se mas é de tretas e diga-nos lá é qual é o «saldo-average» do semestre», indagou um conselheiro, quase a cuspir as palavras,
«É como se vê e eu digo, como disse..., está tudo contra. Já não bastava o ano ser atípico, eu diria que até biatípico..., diria mesmo que triatípico..., um ano inesperado e ainda nos põem questões assim atípicas, num ano em que dinamizámos duas mãos-cheias de novos eventos, todos eles potencialmente geradores de receitas adicionais, para garantir uma realidade financeira equilibrada e confortável, mantendo a capacidade de sustentar projectos a médio e longo prazo...», ia a dizer, assim dizendo... e fazendo-se ouvir, o mariano conselheiro maior, até a falar com alguma transversal soberba.
De novo interrompido:
«Deixe-se lá de conversa fiada e fale de números...», sugeriu um já bem abespinhado Conselheiro, continuando, de supetão: «Não vimos aqui para ouvir paleio fiado...».
... que lá por aquele reino
não anda coisa boa! 
«Fiado, fiado... pois fiado não temos nada..., nada, nada, mesmo nada... É tudo pago com os dinheiros religiosamente guardados desde o princípio deste século por quem nos antecedeu na presidência do Concílio Executivo. Mas deixem-me recordar-vos que este ano foi um ano muito atípico, eu até acrescentaria que biatípico..., diria mesmo que triatípico..., e que, apesar do fio condutor do nosso planeamento orçamental, que assentou em três pilares fundamentais e visava a sustentabilidade do nosso Reino, tão atípico foi o ano que...», ia a dizer, até entusiasmado com o que  ouvia dele mesmo, o proclamado líder. 
De novo, todavia, e de alta voz interrompido:
«Fale de uma vez e de números! Números!!! Núúúúúmeroooos!», proclamou um conselheiro, já de tez bem irritada e rugas a parirem-se-lhe na testa.
«Pois, sendo atípico o ano, como vos tenho dito, diria até biatípico..., ou mesmo que triatípico..., não houve forma de, honrando esta nobre casa, ter saldo-average positivo, mas até antes pelo contrário, as contas...».
«Quanto, quanto?.... Desembuxe lá os números...», proclamaram vários conselheiros.
«Pois eu diria, sei lá... uns atípicos 20 e tal mil dinheiros negativos, o que se compararmos com os juros negativos que o Estado paga, até é muito bom...», respondeu a mariana e presidencial figura, olhando de soslaio o conselheiro das finanças: «São uns atípicos 20 e tal mil dinheiros, não é assim?». 
«E quanto ao outro sexteto de meses do ano, o que projectam?», perguntou outro conselheiro, a cofiar o bigode e com cara de amigos poucos.
«Olhe, pois... e 20 e tal mil,  nos primeiros 8, pronto... é fazer as contas..., fazer uma média a subir... sei lá, faça as contas», respondeu o seráfico presidente do concílio executivo
O bruáááááá... do concílio geral ouviu-se de tão notório, mas foi  interrompido por nova pergunta, já muito mais agreste: 
«E a tal sustentabilidade infantil?», embaraçou uma outra conselheiral voz, de impertinente e provocante conselheiro.
«O nosso fio condutor, e, se me permitem, lembrando que na verdade estamos num ano muito atípico, diria até que biatípico..., ou mesmo triatípico..., o nosso fio condutor assenta no nosso plano anual, por vocências aqui aprovado, pelo que disso falaremos em tempo próprio...», concluiu a presidencial figura, já com algum enfado. E irritado.


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