sexta-feira, dezembro 11, 2020

O revolucionário republicano José Pinheiro de Almeida quis prender o Rei!

José Pinheiro
de Almeida

A República


O óisdaribeirense José Pinheiro de Almeida foi um dos heróis aguedenses da implantação da República e integrava o «comando» que, alguns dias antes do 5 de Outubro de 1910, se preparava, sem conseguir, para prender o Rei D. Manuel II.
O Rei estava no Bussaco e o grupo republicano aguardava na Pampilhosa ordens de Lisboa para a detenção do monarca. Grupo que tinha a cumplicidade do capitão Viegas, oficial da guarda do Rei que residia no Malhapão, em Oliveira do Bairro.
José Pinheiro de Almeida era carpinteiro de profissão, pobre e humilde, de fraca constituição física mas de forte compleição moral. O jornal «Independência de Águeda», pela pena de João Elísio Sucena, na sua edição de 5 de Outubro de 1968, lembra que «defendia com ardor desusado, com coragem, com altivez e com o sacrifício que fosse necessário fazer, todos os ideais do seu espírito».
«Conversava com verbosidade, parecendo que as palavras se atropelavam ao acudir-lhe aos lábios. O calor com que, em geral, se manifestava nas conversas, era a prova da sinceridade com que exteriorizava o seu pensamento», acrescentava o jornal republicano de Águeda de há 52 anos, que editava um artigo inicialmente destinado ao jornal «Águeda» - de que tinha sido director o próprio João Elísio Sucena.
Mariana de Jesus Viegas e o filho
Eugénio Pinheiro de Almeida


Homem de carácter
e integridade ideológica

A família de José Pinheiro de Almeida era numerosa, teve 5 filhos do seu casamento com  Mariana de Jesus Viegas, e poucos bens, sustentando a casa com o seu honrado trabalho de carpinteiro. O que não impediu a sua grande fé na República, «pela qual se bateu em todas as circunstâncias, sem olhar, jamais, aos contratempos e aos perigos que daí podiam advir».
«Bateu-se com firmeza e intransigência, mas sem ódio, pois era de coração lavado, rasgadamente e generosamente aceitando os debates e as batalhas», dele disse João Elísio Sucena, «em homenagem ao carácter e à integridade ideológica de José Pinheiro de Almeida.
«Parece que ainda o estamos a ver, nas primeiras eleições após a implantação da República, vir à frente do valoroso grupo de Óis, sempre tão firme e altivo, de bandeira verde-vermelha empunhada e erguida tão alta, para mostrar a grandeza da sua fé», escreveu João Elísio Sucena.
Acta de fundação do Centro
Republicano de Óis da Ribeira

Reunião em Óis da Ribeira
antes da República!

José Pinheiro de Almeida estava intimamente ligado ao movimento republicano de Águeda e a sua casa de Óis da Ribeira foi palco, poucos dias antes do 5 de Outubro de 1910, de uma reunião conspiratória.
Reunião que João Elísio Sucena considerou «um facto histórico» e que esteve na linha do «movimento percursor revolucionário que culminou com a proclamação da República».
Foi participada por cidadãos da elite republicana de Águeda como, por exemplo, os drs. Eugénio Ribeiro, Manuel Alegre (avô do poeta), Alexandre Braga e Abílio Nápoles e também Bartolomeu Severino e Manuel Mendes da Paz.
«Não o movia o interesse. Pobre, sim, humilde, sim, mas acima de tudo estava o seu nome e o nome da República que tanto amou e serviu», escreveu João Elísio Sucena, sem esquecer Mariana de Jesus Viegas - a sua esposa, que faleceu a 31 de Maio de 1971(2?) em Viana do Castelo e na casa do filho Eugénio.
 
Elísio Pinheiro e a mãe
Mariana  de Jesus Viegas
Família Pinheiro:
- pais e 5 irmãos !

José Pinheiro de Almeida era filho da costureira Maria dos Santos Pinheiro e nasceu a 11 de Dezembro de 1878. Há 142 anos!
Neto de José Ferreira Baeta e de Ana Maria dos Santos Pinheiro, foi baptizado a 19 de Dezembro daquele ano, na Igreja Paroquial de Santo Adrião de Óis da Ribeira, apadrinhado por José Framegas Alves e Maria Emília Pinheira. 
Casou com a jornaleira Mariana de Jesus Viegas, a 26 de Setembro de 1901, e o casal teve 5 filhos, todos falecidos: Severino e Porfírio (ainda 
Alex. Pinheiro
crianças), Eugénio e Elísio (que viveram e morreram em Viana do Castelo) e Alexandre Pinheiro de Almeida, que faleceu em Óis da Ribeira. Neto aqui residente e filho de Alexandre é o agro-pecuário Arménio Framegas Pinheiro de Almeida. 
José Pinheiro de Almeida faleceu a 4 de Janeiro de 1919, aos 41 anos e vítima de tuberculose.
«Até à hora da sua morte, manteve intacta a sua crença na democracia. Depois da sua morte, o nome deste humilde  apóstolo tem sido, ainda para muitos, um emblema de alta significação e valor», sublinhou João Elísio Sucena, afirmando ainda que «o Partido Republicano perdeu um dos seus soldados mais disciplinados».
Foi um dos fundadores do Centro Republicano de Óis da Ribeira, festivamente inaugurado a 30 de Julho de 1911 (ver acta, na imagem acima, e AQUI).
- NOTA: JOÃO Elísio Sucena que aqui citamos, foi político do Partido Republicano Português e diretor do jornal «Águeda», que se começou  a publicar em 1 de Outubro de 1928 e foi suspenso pela censura em 10 de Julho de 1937. Os dados deste post foram recolhidos de um artigo que foi publicado no jornal «Independência de Águeda» que, a 5 de Outubro de 1968, comemorou o 5 de Outubro de 1910 - o dia da implantação da República.

1 comentário:

Anónimo disse...

Mais um ano, menos um palmo a separar-nos da verdade, já que a vida não passa de um progressivo distanciamento da mentira, que a morte remata...

Ainda bem que sempre existe outro dia. E outros sonhos. E outros risos. E outras pessoas. E outras coisas...

Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia mais...